Uma ótima notícia para o planeta e em especial para o continente que mais cresce em chegadas internacionais: representantes do setor turístico africano, reunidos em Kinshasa (República Democrática do Congo), acabam de se comprometer a usar essa indústria como estímulo à proteção da biodiversidade e meio ambiente. A decisão ocorreu após uma intensa semana de troca de experiências enquadrada no programa Chimelong para Vida Selvagem e Turismo Sustentável da Organização Mundial do Turismo.
A Declaração de Kinshasa foca-se especialmente no combate à caça furtiva e na redução da pegada de carbono. Ela foi assinada durante a Conferência Regional da OMT na capital congolesa, cujo objetivo era apresentar resultados de diversos workshops ocorridos ao longo de 2017. Essas oficinas buscaram incentivar comunidades locais e indústria turística a atuarem como defensores da conservação da biodiversidade e da proteção ambiental.
Mais de 120 pessoas, oriundas do Níger, Gabão, Benin, Guiné e RDC foram treinadas no ano passado. A ideia era capacitar esses atores para que possam projetar e implementar iniciativas bem-sucedidas em seus respectivos países. Além dos cinco citados, o Zimbábue também mandou um representante para o evento em Kinshasa, que reuniu cerca de cem participantes.
ALAVANCA PARA DESENVOLVIMENTO LOCAL
De acordo com a Declaração, os países signatários se comprometem a “reforçar o papel do turismo sustentável como alavanca de desenvolvimento local e apoio à conservação e preservação do meio ambiente”. O documento também os incita “a se envolver no fortalecimento da conservação da biodiversidade, na conscientização e na luta contra várias formas de exploração excessiva dos recursos – incluindo a caça ilegal-, além da redução da pegada de carbono de atividades relacionadas ao turismo”.
Com participação do primeiro ministro congolês, Bruno Tshibala, o evento reuniu ministros dos países participantes, que debateram formas de envolver as comunidades locais, desenvolver programas educacionais ligados ao turismo sustentável e aumentar a conscientização sobre a biodiversidade e a vida selvagem e como colocar o turismo como prioridade para a geração de empregos.
Resta torcer para que as ideias apresentadas não fiquem apenas no discurso político. Ao menos uma medida prática tomada no evento pode ter bons efeitos: a realização de um workshop voltado para comunicação e relações com a mídia. Nele, funcionários públicos desses países analisaram o potencial da vida selvagem na promoção de seus destinos e estudaram as metodologias e práticas estratégicas de comunicação que podem facilitar seu trabalho.
ÁFRICA NO FOCO
Consola saber que já há uma série de medidas, ao menos em nível institucional, que estão focadas nesse continente, quiçá o mais necessitado de incentivos turísticos. Shanzhong Zhu, diretor executivo da OMT, relembrou nesse evento outros acordos semelhantes, como a Declaração de Lusaka sobre Turismo Sustentável e Envolvimento da Comunidade na África e a Primeira Carta Africana sobre Turismo Sustentável e Responsável, adotada pela COP22. Países como Quênia e Namíbia vêm fortalecendo suas áreas de conservação comandadas pela comunidade local, de modo a assegurar o turismo responsável, como se pode ler neste ótimo artigo do Responsible Travel.
Além disso, durante a última Feira Internacional de Turismo de Berlim – ITB, em março, foi criada uma nova Agenda por ministros de Turismo de 17 países africanos*, com dez pontos. O documento final será aprovado em Abuja (Nigéria), em uma reunião que ocorrerá em junho de 2018. Entre os temas da Agenda, que durará quatro anos, estão conectividade, imagem da “marca África“, redução da pobreza, mudanças climáticas, educação, desenvolvimento de competências locais e financiamentos.
O continente africano vem recebendo cada vez mais turistas internacionais. Cresceu 8% em 2016 e mais 8% em 2017, superando a média mundial (por volta de 6%). Em números: nada menos que 62 milhões de visitantes internacionais no ano passado. Um imenso potencial de desenvolvimento para a região (principalmente se pensarmos que o turismo foi um dos motores que vêm ajudando a países como a Espanha a saírem de crises).
As diversidades (natural e cultural) são os grandes chamarizes da África. Enquanto Europa e Ásia atraem visitantes aos borbotões por seus museus, templos, catedrais (obras arquitetônicas em geral), a África tem mais atrações “intangíveis”, portanto, mais difíceis de “se vender” a turistas estrangeiros. Lembrando que a grande preocupação é realizar esse salto levando em conta a sustentabilidade econômica, social e ambiental. Torçamos.
*participaram da reunião na ITB e possivelmente assinarão a Agenda: Angola, Cabo Verde, Camarões, Congo, Costa do Marfim, Etiópia, Gâmbia, Mauricio, Madagascar, Mali, Marrocos, Moçambique, Nigéria, Quênia, Sudão, Zâmbia e Zimbábue.
A imagem de abertura do post é desta apresentação ótima sobre a República Democrática do Congo.