Calcutá a pé com os locais

Explorar a cidade "um passo de cada vez" é a proposta ecológico-cultural do coletivo Calcutta Walks

Ver a Ponte Howrah, visitar o Victoria Memorial, andar na boi-para (conhecida também como Book Lane e College Street) ou curtir o festival Durga Puja. Quem já foi ou pretende visitar a cidade indiana de Calcutá certamente está por dentro dessa programação. Mas, que tal descobrir a cidade caminhando com a Calcutta Walks, um dos walking tours mais bem recomendados do mundo?

São 12 guias, ou melhor, exploradores, que têm formações diversas: Teatro, História, Direito, Arquitetura, Administração e por aí vão. Já realizaram mais de seis mil tours, para quase 37 mil walkers. Mais de 40 mil quilômetros percorridos e 48 mil… taças de chá consumidas. 

Dados que impressionam, mas não surpreendem. Após dez anos de sucesso, o coletivo criado pelo ex-executivo Iftekhar Ahsan (Ifte, para os íntimos) tem como motor o turismo sustentável ao apresentar, de forma ecológica, partes conhecidas e desconhecidas de Calcutá a viajantes do mundo inteiro.

Alguns sorridentes membros exploradores do Calcutta Walks (Foto: Calcutta Walks)

CALDEIRÃO CULTURAL

Calcutá ou Kolkata, como é conhecida localmente, é a terceira maior aglomeração urbana da Índia, com uma área metropolitana que reúne mais de 14 milhões de habitantes, perdendo apenas para Délhi e Mumbai. Trata-se de um dos maiores e mais desenvolvidos centros financeiros do país, uma grande urbe com problemas e estresses de cidade grande

“Após anos chafurdando em negligência e má fama, Calcutá não consegue ser vista pelas pessoas como a grande cidade que ela realmente é”, afirma Anirban, um dos “exploradores”, nesta matéria. Os passeios buscam mudar esse pensamento.

“Temos o orgulho de mostrá-la como ela é: animada e colorida, como uma mistura de raças, religiões, comunidades, linguagens e heranças. Nosso esforço permanente visa fazer o turista engatar um diálogo com a cidade“, continua Anirban. De acordo com ele, esse diálogo é o primeiro passo para compreender a essência de Calcutá e seu ethos. “Somos mais do que uma empresa turística”, acredita, destacando a missão “sustentável e responsável” de impactar positivamente o local.

Durga Puja
“Puja walks” são passeios durante o festival Durga Puja, em setembro (Foto: Calcutta Walks)

NOVE TEMAS DE PASSEIOS

A oferta é variada. Os tours duram, em média, três horas e custam de 2000 a 6500 rúpias (30 a 100 dólares), mas rolam alguns descontos (veja aqui como funciona a cobrança). São nove temas, com várias opções dentro de cada um deles: Calcutá colonial, Calcutá Bengali, Arquitetura de Calcutá, Calcutá Multicultural, Arredores do Rio Hooghly (um afluente do Ganges), Wetlands, Bazares, Amantes da Fotografia e Gastronomia.     

Em cada tema, é possível encontrar experiências tão diversas como uma aula de culinária, um passeio pelos Himalaias, um mergulho na comida de rua ou um cruzeiro. Algumas estão elencadas em mais de um tema, portanto, é possível fazer intersecções nos assuntos acima.

Embora se venda como um tour a pé, há passeios que usam outros meios de transporte, como bicicleta, barco, transporte público e alguns não tão sustentáveis, como carro e moto (minoria). De acordo com o site, esses transportes são usados apenas quando são realmente necessários. Nada é perfeito, ainda mais numa cidade tão grande.

A troca cultural parece ser mesmo o maior chamariz dos tours. Prova disso é que a CalWalks também gestiona hospedagens em casas de locais, uma experiência que eu vivi em Cuba e recomendo fortemente em todos os lugares onde esse tipo de alojamento exista de forma segura. Não há melhor maneira de interagir e mergulhar na cultura do que dormindo em uma casa de verdade, com anfitriões que curtam intercambiar experiências. Sem contar que você está contribuindo diretamente para a renda dos habitantes.

Guia à beira do rio (Foto: Calcutta Walks)

Escala de sustainatripity: 8 – Triple bottom line completinho: a gente adorou que o CalWalks promova a interação cultural e ofereça informação relevante sobre Calcutá e a Índia (pilar social). E também que movimente a economia local com os alojamentos (pilar econômico). Mas, não curtimos muito alguns tours terem motos e carros. Seria melhor focar só nos passeios a pé, em transporte público, barco e bike (pilar ambiental).

Por que vale a pena? Porque os guias são apaixonados pelo que fazem, porque a CalWalks tem altas notas nos principais termômetros turísticos e na imprensa especializada, porque conhecer uma cidade a pé dá uma sensação de pertencimento incomparável.

Vai agradar a quem? A um público variado. Os passeios podem ser feitos por pessoas de qualquer idade, há para todos os gostos (comilões, compradores, amantes das artes, interessados em religião e rituais, curiosos) e a duração mínima é de apenas três horas. 

Para mais informações sobre os passeios e sobre Calcutá, visite o simpático blog deles.

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