Minha visita a Ciudad de Panamá, conhecida como Cidade do Panamá em português, há alguns anos, foi algo quase acidental. Conexão de uma viagem a Cuba, acabou virando uma parada – decisão que agradeço ter tomado até hoje. Isso porque a capital panamenha é bem mais do que um shopping a céu aberto (como costumam dizer os brasileiros), cheia de atrações históricas.
Apesar de ter gostado de lá (abaixo falo de suas principais atrações), confesso que me assustei com a quantidade de arranha-céus, trânsito pouco amigável e cinza predominante. A novidade é que, desde 2016, essa urbe vem colhendo os frutos do chamado plano Huella Verde (Pegada Verde), dentro do Projeto Revitalização do Espaço Público, que estuda a vegetação presente na cidade, com a intenção de determinar quais plantas são menos invasivas.
O resultado é que, além de estar se tornando um centro mais verde, a Cidade do Panamá também está cada vez mais viável. Afinal, com o plantio correto de espécies que não danifiquem suas estruturas, o lugar também acaba sendo mais seguro e inteligente do ponto de vista estrutural.
QUASE SEIS QUILÔMETROS REFLORESTADOS
Até o momento, perto de 18 mil árvores, arbustos e palmeiras de 181 espécies foram avaliados, dos quais 70% estão em bom estado. No entanto, apenas algumas dessas espécies são recomendáveis para o plantio em centros de trânsito – correndo o risco de caírem ou de levantarem o asfalto com as raízes, o que poderia causar acidentes.
Por isso, o projeto prevê a substituição segura dessas plantas, além de ações como soterrar cabos aparentes e recuperar calçadas. Até o fim de 2018, um total de 5,8 quilômetros serão reflorestados, com o plantio de 900 mudas de árvores floríferas (como a linda Chuva de Ouro) ao longo de avenidas da cidade.
Apesar de estar indo bem, a iniciativa acabou sendo vista com reticência tanto dentro quanto fora do Panamá. Tudo porque ficou a cargo da Odebrecht, que está envolvida em 26 inquéritos relacionados a corrupção no país de 2004 a 2014 (período anterior à iniciativa) e vai pagar uma multa de 220 milhões de dólares a essa nação caribenha. A gente torce para que, desta vez, nem os cidadãos nem a natureza pague o pato de mais uma irregularidade da empreiteira.
CULTURA, HISTÓRIA E GASTRONOMIA RICAS
E para quem quiser conhecer a simpática capital panamenha, reproduzo aqui algumas dicas (atualizadas) que publiquei no antigo blog As Viajantes (o post original pode ser consultado aqui em archive). Confira abaixo.
A primeira impressão na Cidade do Panamá foi estranha. Já dentro do aeroporto, que mais lembra um shopping center, há dezenas de lojas de marcas internacionais, com preços em conta (em tempos de dólar amigável, claro). Deu até certa agonia ver tanto consumismo. Como a Copa (companhia aérea nacional) voa também para Miami, o que mais vimos na volta foram brasileiros cheios de sacolas que, depois de se fartarem de comprar nos Estados Unidos, ainda tiveram fôlego para umas ofertas em solo panamenho.
Longe de irmos às compras, nossa ideia, ao desembarcar na capital, era dar um jeito de chegar até o famoso Canal do Panamá. Eu só tinha ouvido falar de eclusas no colégio e tinha muito curiosidade. A esticada não estava prevista no roteiro inicial (iríamos só a Cuba), portanto, não programamos nada e nem sabíamos o que iríamos encontrar na cidade.
Acabamos dando sorte. Descobrimos que muita gente aproveita para passar o dia por lá enquanto espera o voo. Foi fácil encontrar um taxista que combinou de ficar com a gente o dia inteiro por cerca de 70 dólares (pagamos na moeda americana mesmo, que é aceita em vários locais) e demos mais US$ 10 de gorjeta. Mas, como isso já faz algum tempo, é possível que um passeio desses atualmente custe mais.
ARQUEOLOGIA E PATACONES
E vale a pena. O motorista (todos dirigem como loucos por lá, não se assuste) nos levou primeiro para as ruínas de Panamá La Vieja (também conhecido como Panamá Viejo), a parte mais antiga da cidade que ainda está de pé e que tem um sítio arqueológico Patrimônio Mundial da Unesco. O assentamento foi destruído pelo pirata Henry Morgan em 1671, mas o local ainda é um dos mais visitados do país.
Depois demos uma volta pelo Casco Antiguo, que conta com diversas casas coloniais e igrejas, das quais destaco a de San José e a Catedral, super interessante por ter a fachada de pedra e as torres em madrepérola, criando um contraste lindo.
Também visitamos Las Bóvedas, conjunto arquitetônico que rodeia a Plaza de Francia. O local era parte de uma espécie de forte defensor da cidade e tem uma vista bem legal, de onde se pode ver o Pacífico e os arranha-céus, marca registrada da capital panamenha. Dentro do espaço, vimos muita gente vendendo artesanato. As cores e padronagens dos objetos são irresistíveis. Não compramos nada no aeroporto-shopping, mas levamos para casa tecidos e lembrancinhas indígenas.
Na parada para o almoço, descobrimos que a comida panamenha tem pratos muito parecidos com os de outros países. Entre eles, uma entrada/petisco que me vuelve loca: os patacones. Comuns na Colômbia (lembrando que o Panamá foi parte dela), os patacones são rodelas de banana gigante amassadas e fritas. Crocantes, ficam perfeitas com molhos ou puras mesmo. A sopa de frango e legumes sancocho (dizem que é boa para ressaca) e os tamales (mais associados ao Peru e ao Equador) também são boas pedidas, além dos frutos-do-mar.
A mesa panamenha também tem influência da culinária caribenha, espanhola, francesa e, atualmente, norte-americana. Há referências aos Estados Unidos em várias partes.
Antes de partir para o Canal, vale uma passada no Museo del Canal Interoceánico de Panamá, que fica no Casco Antiguo (entre a Plaza de la Independencia e a Plaza Bolívar), para conhecer melhor a história dessa obra monumental. Dentro das eclusas de Miraflores (aonde vão os turistas que estão na Cidade do Panamá) também há uma espécie de museu com informações.
Mas o primeiro é mais bacana porque fica dentro de um antigo hotel de luxo e conta a história do país desde os povos pré-colombianos, a chegada dos espanhóis e detalhes da obra que começou com os franceses e terminou com os americanos, além de ter informações atuais sobre a importância comercial do canal. É importante se proteger do sol e beber muita água porque o canal é bem aberto, não tem como fugir dos raios. Eu não levei filtro solar e fiquei muito queimada.
Ao chegarmos às eclusas de Miraflores (nome do lago por onde passa o canal) fazia um calor do cão (estávamos em janeiro). Soubemos que ainda demoraria para passar algum navio (a atração é vê-los passar), então demos uma volta dentro da eclusa, onde havia um ar condicionado fresquinho. Por lá, descobrimos que o canal, de mais de 80 quilômetros, foi uma ideia dos espanhóis ainda no século XVI. Mas foram os franceses que começaram a abrir o istmo, só em 1880. Nove anos e centenas de mortos depois (devido ao enorme esforço físico e doenças tropicais, entre outras razões), as obras foram interrompidas.
Em 1894, os franceses voltaram ao projeto, dessa vez com a ideia de fazer as eclusas, o que facilitaria muito as escavações, já que os rios do istmo tinham diferentes níveis. Também fracassaram. Foi aí que decidiram vender os direitos da construção aos Estados Unidos, país que retomou o projeto em 1904.
Mais de 75 mil pessoas trabalharam na obra e, até 1914, quando foi inaugurado, mais de 400 milhões de dólares foram gastos. Uma linha ferroviária foi construída ao longo da rota para levar material e hoje ela continua em funciomento. Até 1999, o canal ainda era administrado pelos Estados Unidos. Hoje, o controle é totalmente panamenho.
Para fazer uma visita virtual e ver detalhes de horários e preços, clique aqui. Lembrando que a moeda local é o balboa (a cotação para o dólar é de 1:1)
Na volta para o Brasil, lamentei não ter me organizado para passar mais uns dias não só na Cidade do Panamá (há muito mais para ver, conhecer e degustar), mas também no país. Na revista de bordo, descobri, por exemplo, que é um programão se hospedar na casa de índios em uma das muitas cidades litorâneas e paradisíacas do Panamá. Ficou anotado para a próxima. E, se quiser conhecer mais da parte verde da cidade, confira esta matéria bacana do jornal local La Prensa sobre o como transformar um feriadão (no caso, foi o carnaval de 2018) em um momento de relax e interação com a natureza ali por perto da metrópole.