Alguns lugares no mundo deveriam permanecer intocados. Principalmente se forem um arquipélago vulcânico, no meio do Oceano Pacífico, abrigando uma incrível diversidade de espécies (muitas que só existem lá). Aliás, mais ainda se for o local que inspirou ninguém menos que Charles Darwin a criar sua Teoria da Evolução, que, como bem sabemos, marcou um antes e um depois na ciência.
Mas, se desde 1835 (quando Darwin esteve por lá), o Arquipélago de Colón, mais conhecido como Ilhas Galápagos, já atraía visitantes, o que dizer de hoje? Este que foi o primeiro Patrimônio da Humanidade declarado pela Unesco tem um apelo irresistível entre viajantes. Porém, essa atração tem um preço alto: alterações climáticas, desmatamento, poluição e introdução de espécies invasivas.
De acordo com a organização Galapagos Conservation Trust, cerca de 200 mil pessoas visitam o arquipélago todos os anos, sendo que a população residente é de 30 mil habitantes. A preocupação com a preservação é uma constante. Por isso, disponibilizo algumas dicas, inspiradas neste texto, para visitar esse santuário da natureza tentando gerar o menor impacto possível.

1.Prefira cruzeiros a hotéis
Não sou muito fã de cruzeiros, mas, no caso de Galápagos, eles são considerados um tipo de viagem mais sustentável. Isso porque hotéis causam mais impactos estruturais, poluição e alteram o ecossistema da região onde são construídos. Das quatorze grandes ilhas do arquipélago (são mais de 50 no total), apenas quatro são habitadas e contam com rede hoteleira. São elas: Santa Cruz (a mais bem estruturada), San Cristóbal, Isabela e Floreana. Dormir em cruzeiros em vez de hotéis, além de ser uma opção mais “limpa”, é a menos cansativa e a que permite conhecer melhor as ilhas, já que, uma vez hospedado em terra, gasta-se muito tempo com barco-táxis. Infelizmente, mesmo optando por cruzeiros, ainda é preciso pegar um avião até lá (são mil quilômetros de distância da costa equatoriana), pousando em San Cristóbal ou Baltra (micro ilha colada em Santa Cruz). A revista Viagem e Turismo sugere alguns cruzeiros por lá, ressaltando as vantagens de cada um.
2. Fique o máximo de tempo possível
Pode parecer estranho, mas, ao esticar sua estada, seu impacto vai se diluindo. Isso porque, ao ficarem mais tempo, os turistas, a longo prazo, vão diminuindo o tráfego aéreo no arquipélago. Além disso, ao optarem por conhecer as ilhas com mais calma, é possível estabelecer mais interações com comunidades locais, beneficiando-as diretamente. Sem contar, claro, que você vai poder ver mais vida selvagem. Os cruzeiros têm pacotes de três a 14 noites, mas a estadia recomendada é no mínimo de sete noites.
3. Não tente tocar nos animais
Esta não apenas é uma recomendação, mas também uma regra local. Os bichos das ilhas são extremamente acessíveis, não têm medo de humanos e podem ser vistos facilmente em portos, praias e até ruas frequentadas por pessoas. Porém, se você for flagrado tentando tocá-los, perseguindo-os ou alimentando-os, pode ser punido pelas autoridades locais. Um dado interessante: o arquipélago é considerado um dos lugares mais seguros do mundo para mergulhar com tubarões. Se você tem esse desejo, é o destino certo, embora acidentes possam acontecer. Aliás, vale dizer que o mergulho de snorkel é imperdível, já que há um mundo submarino tão fascinante quanto o terrestre por lá. Se não conseguir mergulhar, tente ao menos um passeio em barco de fundo transparente.

4. Colabore com os programas de conservação
Visitou e ficou apaixonado? Não esteve lá ainda, mas quer ajudar de alguma forma mais ativa? É possível doar tempo e/ou dinheiro a organizações variadas, como a Galapagos Traveler Conservation Fund; a International Galápagos Tour Operators Association (IGTOA); as tradicionais Charles Darwin Foundation e Galápagos Conservancy; ou ainda fundações que beneficiem também a comunidade “humana”, como a Children of Galápagos. Vale dizer que todos esses sites têm dicas valiosas para quem quiser planejar a trip por lá.
5. Faça essa viagem apenas uma vez na vida
Meio radical, né? Mas, é isso. Galápagos está para o Equador como Noronha está para o Brasil, ou seja, existe uma preocupação enorme em preservar um paraíso tão frágil. Além disso, é uma viagem cara, com pagamentos em dólar, taxa de conservação (50 dólares para viajantes do Mercosul, crianças de 2 a 11 anos pagam metade dela), taxa de controle de trânsito (20 dólares) e cruzeiros salgados de alguns milhares de dólares. Os mais em conta custam por volta de 600 dólares, por poucos dias, e que fazem passeios que você poderia fazer estando baseado em uma ilha. Ah, sim, claro que sai mais barato ficar em hotéis (mas barato, baratinho mesmo, não será).

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Escala de sustainatripity: 7 – Passou raspando. Isso se deve, principalmente, ao fato de ser uma viagem cara e para poucos. Ou seja, o pilar econômico do triple bottom line ficou meio capenga. Por outro lado, é uma forma de limitar a visitação por lá, evitando um overtourism prejudicial à natureza – mesmo que essa justificativa seja conveniente ao turismo de luxo que deita e rola com os cruzeiros. No quesito ambiental, o arquipélago faz bonito. Dificilmente você verá tanta diversidade na vida.
Por que vale a pena? Porque é um local no meio do Pacífico, isolado, onde espécies únicas (endêmicas) se desenvolveram durante muito tempo sem interferência humana, como as famosas tartarugas-gigantes-de-Galápagos (Chelonoidis nigra). Biodiversidade imbatível: mais de cinco mil espécies vivem por lá, sendo que duas mil não se encontram em nenhum outro lugar do planeta. Para saber quais são imperdíveis, veja aqui.
Vai agradar a quem? Apaixonados por natureza e animais, obviamente. Mas é o tipo de destino que agrada a todas a idades e também a quem busca exotismo até à mesa (lembrando que a lagosta é o prato oficial). Se ainda tem dúvidas, confira estas oito dúvidas sobre viagens a Galápagos.