Como identificar um verdadeiro ‘ecolodge’

Algumas regras para saber se seu alojamento é realmente sustentável ou só 'greenwashing'

Não é um problema só na indústria turística. Quase todos os serviços estão surfando na onda do eco-friendly, afinal, mais do que uma moda, esse ‘rótulo’ virou sinônimo de conscientização, bem-estar e… como pega bem postar algo assim no Insta, né? Pois é, mas, se você procura uma verdadeira experiência sustentável, vale atentar para alguns detalhes. Afinal, você pode ir acabar parando em uma experiência greenwashing, ou seja, verde só na aparência. 

Neste post, vou focar nos alojamentos que se autointitulam ecolodges.  Usar por mais de um dia toalhas e lençóis para economizar água? Obter eletricidade de fontes renováveis? Ter móveis e estruturas de materiais aproveitados? Isso é ser um ecolodge?

Antes de tudo, vamos ver o que define um estabelecimento assim. Segundo a organização Hospitality.net, “hotéis ‘verdes’ em geral são muito similares, mas existe um detalhe que diferencia o verdadeiro ecolodge de outros: sua localização. Eles se encontram profundamente isolados em plena natureza, o que pode ser uma floresta, aos pés de uma cordilheira, aninhado à beira de um rio e por aí vai, tudo para proporcionar ao hóspede uma verdadeira conexão com o ambiente selvagem“.

Ecolodge em Goa, na Índia (Foto deste Pinterest)

FUNÇÃO EDUCATIVA

Ou seja, é perfeitamente possível você encontrar um hotel verde no meio de uma grande cidade. Ele pode satisfazer seus desejos de turista preocupado com meio ambiente, que quer se reconectar com a natureza, mas não abre mão de estar perto da praticidade de uma urbe. Por outra parte, o ecolodge é para quem quer de fato estar imerso no verde – ou no branco ou no amarelo ou no azul, pois a natureza também pode ser gélida, árida, temperada etc.

Então para ser um ecolodge basta apenas fincar bandeira longe da civilização?  Melhor acampar, ora. Claro, melhor acampar, principalmente se você estiver sem grana (ecolodges não são especialmente baratos). Porém, vai além, bem além disso.  Melhor ir por itens. Um bom ecolodge:

  • Se preocupa com seu funcionamento sustentável, mas também preserva seus arredores. Não só isso, tem também o compromisso de “educar” seus hóspedes a preservar fauna e flora com soluções práticas (avisos por escrito em lugares estratégicos, por exemplo);
  • Prefere decoração e utensílios que valorizem a cultura local (como a indígena ou aborígene, se estiver perto de um grupo deles), desde a escolha da louça até o menu, passando pelos souvenirs;
  • Contrata  funcionários da região, o que representa benefícios diretos para a economia local, além de manter um aporte cultural genuíno dessas pessoas como consultoras;
  • Tem um leque de soluções ‘verdes’ portas adentro: iluminação com lâmpadas LED, painéis solares, reaproveitamento de água, reciclagem de materiais, preferência por alimentos orgânicos e cultivados por perto estão entre algumas mais comuns;
  • Redução do consumo plástico. Um dos itens mais desafiadores, já que envolve evitar utensílios descartáveis e algo típico de qualquer hotel: embalagens de minisabonetes, shampoos e condicionadores. Vários alojamentos sustentáveis já adotam produtos a granel em suas suítes.

De preferência, que tudo isso esteja bem claro no site, nas redes sociais e em toda comunicação do alojamento em questão. Hoje em dia, há como verificar se as informações são verdadeiras lendo resenhas em sites especializados ou nas próprias plataformas de reservas, como o Booking.com. 

 

Lapa Rios Ecolodge, na Costa Rica. Foto: James Anderson na Culture Trip

CERTIFICAÇÕES NACIONAIS E INTERNACIONAIS

Contar com uma certificação oficial também é um ótimo sinal. Uma das mais conhecidas para hotéis em geral é a EarthCheck, que não é específica para alojamentos, mas é muito usada por eles. Foi criada na Austrália e está presente em mais de 70 países – Brasil incluído.

O americano Green Seal é outra referência, tampouco exclusiva de hospitality, mas para serviços e produtos em geral. E ainda existe a Global Ecolabelling Network, a minha favorita, pois tem conselheiros de vários países (nossa ABNT atualmente está representada lá). Para saber mais sobre esses selos, veja aqui.  

De acordo com este artigo da pesquisadora Andreia Espínola, existem, basicamente, dois tipos de certificação visando a sustentabilidade: um baseado em processo e o outro baseado em performance. As baseadas em processos são todas as variações dos sistemas gestão ambiental (SGA) usados, especialmente, em grandes hotéis ou cadeias de hotéis para objetivos ambientais como redução de poluição e economia de água/eletricidade. O mais conhecido padrão de SGA para a certificação dos hotéis verdes é o ISO 14001. 

Já Certificações Baseadas em Performance (CBP) são mais fáceis de se implementar porque não requerem  um complexo e custoso sistema de gestão ambiental. Por isso, são mais atrativos para pequenas e médias empresas.

Por aqui, o mais comum é ter mesmo o certificado ISO 14001, que é um SGA. Outro recurso nacional é participar do Programa de Responsabilidade Ambiental -Hóspedes da Natureza, criado em 2002 pela Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH).

Com essas poucas dicas já dá para saber onde você estará pisando (e dormindo, comendo, tomando banho…). 😉 

P.S. Há milhares de pessoas escrevendo eco-lodge ou eco lodge, mas, pesquisando em dicionários, percebi ampla preferência por ecolodge em inglês. Certamente a expressão eco-friendly (uma das poucas em inglês com o prefixo eco- que usa hífen) é a responsável por essa associação. Mesmo assim, optei pela versão inteira (a mais difundida) neste texto.