Na Irlanda chove muito. Durante todo o período em que lá estive (pleno verão europeu), sempre havia nuvens no céu, com precipitações a qualquer momento. Os dias molhados são rotina e até Molly Malone (estátua acima) está cansada deles, mas, toda esta umidade tem uma consequência maravilhosa: a Irlanda é um dos países mais verdes da Europa. Não é à toa que é chamada de Ilha Esmeralda e tem entre seus símbolos o trevo e os leprechauns (duendes de sua mitologia).
É possível ver a cor verde por toda parte. Seja nos lindos parques da cosmopolita Dublin, seja viajando pelas imensas estepes do interior e por cidades médias como Limerick (conhecida pelos Cramberries e que voltou à mídia depois da morte de Dolores O’Riordan, snif) ou nos imponentes Cliffs of Moher. São árvores e grama por toda parte.
Natural, então, que se queira aproveitar, sempre que a chuva permitir, a vida ao ar livre. E uma das melhores formas é em cima de uma bike. A Irlanda tem mais de 1.200 quilômetros de estradas rurais, trilhas florestais, rotas à beira de rios e do mar e, mais recentemente, extensíssimas ciclovias.
INFINITA GREENWAY
Um dos caminhos mais procurados por ciclistas é a Great Western Greenway, que conta com 42 quilômetros e é a trilha de mountain bike mais longa da nação, indo de Westport a Achill, no Condado de Mayo, noroeste da ilha. Foram mais de 80 mil visitantes, que gastaram sete milhões de euros em seu primeiro ano.
Atualmente, entre viajantes e locais, são mais de 250 mil usando a via por ano – cifras que inspiraram a criação de novas rotas similares, em outros pontos cardeais da ilha, como a Great Southern Trail, de 36 quilômetros, que vai de Rathkeale para Abbeyfeale (sudeste do país), seguindo a antiga linha de trem Limerick-Tralee.
Esta interessante matéria do Irish Times conta como foi possível instalar diversas greenways em espaços de propriedades privadas (cerca de 160) pelo país, sem desembolsar nada aos donos. E revela a história da antiga linha de trem que fazia este caminho pelo oeste. A importância histórica e econômica da velha linha férrea foi o que amoleceu o coração e amainou as preocupações com segurança dos landowners – visitados um a um pela responsável pelo desenvolvimento da região, Anna Connor.
Os proprietários tiveram cercas fincadas para impedir a entrada em outras partes de suas terras e rapidamente perceberam o benefício de deixar as vias verdes passarem. Elas incrementaram o turismo no interior, criaram novos empregos (mais de 200 novas vagas em hotéis, lojas de bicicletas, cafés, restaurantes, agências de guias) e fizeram aumentar as viagens sustentáveis.
Sem falar na redução de emissão de carbono. Aliás, recentemente, um estudo catalão realizado em 167 cidades europeias descobriu que aumentar as redes de bicicletas pode evitar cerca de 10.000 mortes por ano no continente.
“Criar uma ciclovia é criar uma comunidade”, diz o engenheiro Pat O’Rourke, do conselho do Condado de Louth, citando o livro Greenways for America, do americano Charles Eugene Little. Não poderia ser mais verdadeiro.
ULTRAPASSE PELA DIREITA
Dicas rápidas: vale lembrar que a mão é invertida em relação à nossa. Todos andam à esquerda e isso vale para as bicicletas também. Outro detalhe importante: como já dito acima, o clima varia muito ao longo do dia, então, são fundamentais casacos impermeáveis com detalhes que permitam a visibilidade nas estradas, além de capacete e um bom farol para encarar neblinas.
É preciso também ficar atento ao local onde estacionar (com trava) a magrela. Existem lugares próprios para elas, sob risco de serem removidas. Ciclistas precavidos também andam com kit de reparação de furos, pois, embora haja muitas lojas de bicicletas no país, vai que você para no meio do nada?
Boas lojas de aluguel incluem tudo isso e fornecem informações fundamentais, mas, vale consultar antes o site Dublinbikes. Trata-se do sistema de aluguel de bikes da capital, com mais de 40 estações espalhadas pela cidade (and still counting), que tem ótimas dicas para ciclistas em geral que valem para o resto da Irlanda.
Vale lembrar que a vizinha Irlanda do Norte é tão pedalável quanto. Este site incrível mapeia algumas rotas para turistar de pedal por lá. Perfeito para uma viagem casada entre os dois países.
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Escala de sustainatripity: 10 – Ponto pro meio ambiente? Claro. Ponto para economia? Sim. Ponto para a sociedade? Também, já que permite mais interação com as comunidades locais. Fechamos o triple bottom line.
Por que vale a pena? Porque conhecer locais de bicicleta é uma experiência totalmente diferente, porque você diminui sua pegada ambiental, porque é um super exercício respirando ar puro e porque é seguro.
Vai agradar a quem? Quem adora natureza, quem curte fazer longas travessias de bike, quem quer conhecer a Irlanda profunda, quem ama trocas culturais.