Os festivais mais sustentáveis do mundo

Aberta a temporada de calor e de grandes eventos culturais no Hemisfério Norte

Depois do último inverno rigoroso, o Hemisfério Norte se prepara para o calorzinho que traz junto a oportunidade de estar à vontade ao ar livre. A primavera e o verão são esperados ansiosamente não apenas para que americanos, canadenses e europeus ponham as manguinhas de fora, mas também para que possam curtir alguns dos inúmeros festivais de música e arte que rolam em seus países – e que atraem espectadores do mundo inteiro. Mas, pense bem, festivais também geram uma montanha de lixo. Como criar eventos bacanas que impactem menos o meio ambiente?

Pensou no Burning Man? Pois é, esse festival de arte americano tem regras estritas em relação aos resíduos produzidos (cada pessoa é responsável pelos seus e deve levar todo o lixo para fora do espaço do evento ao ir embora), entre outras medidas de conscientização em relação às pegadas que deixamos pelo mundo. No entanto, festivais que não tenham a sustentabilidade em seu core também podem contribuir para uma experiência mais responsável.

É aí que entra o A Greener Festival. Trata-se de uma organização sem fins lucrativos que ajuda a eventos e festivais pelo mundo a adotarem práticas ambientalmente eficientes. Informação, recursos educativos e intercâmbio de ideias com os organizadores são alguns dos caminhos. 

Roskilde Festival
O Roskilde, na Dinamarca, figura entre os Altamente Recomendados do AGF (Foto: Vegard S. Kristiansen/Roskilde Festival)

AUDITORIAS E PRÊMIO

E aí que você está planejando umas ‘férias de festivais’. OK, o line up possivelmente é seu fator principal na hora de eleger qual/quais evento(s). A localização também pesa. Mas, com tantas ofertas boas em cidades incríveis, por que não levar em conta também mais um elemento, o de “festival verde”? 

O site tem sugestões tanto para quem organiza eventos quanto para quem os frequenta, sempre com a ideia de leave no trace. Por exemplo, se o lixo está sendo descartado corretamente ou se há informação suficiente sobre como chegar por transporte público são alguns pontos a serem considerados.

Mas seu grande trunfo é o A Green Festival Award (AGF Award), que existe desde 2007. Funciona assim: o evento (que pode ser festival, conferência, exposição, torneio esportivo, feira comercial etc.) solicita a participação no prêmio e, primeiramente, realiza uma autoavaliação. Em seguida, o organizador pede que o AGF mande um auditor se certificar que o festival está tomando medidas para ser o mais sustentável possível.

O responsável pela auditoria conversa com organizadores e com o público, verifica a infraestrutura, inspeciona os bastidores, checa o material de divulgação, entre outros detalhes, além de comparar tudo com o que foi fornecido na autoavaliação prévia. E olhe que legal: eles aceitam voluntários para visitar os festivais. 

A Greener Festival Award
Caminho até a certificação verde de um festival

 

DOMINAÇÃO EUROPEIA

Para ser um festival avaliado, há um custo: além de bancar a ida e estadia de quem fizer a análise, é necessário pagar cerca de 500 dólares pelo serviço. Se ainda quiser um boletim de recomendações relatando os pontos fracos e fortes do evento, há uma taxa extra de 350 dólares.

E quem são alguns dos campeões entre os mais de 400 eventos avaliados na última década? A grande maioria está na Europa. Não sabemos se os festivais ao sul do Equador não foram avaliados ou se foram e não ganharam estrelinha :-/.

O prêmio tem quatro categorias: Excepcional, Altamente Recomendado, Recomendado e Em Melhorias. Entre os oustanding de 2017, estão:

  • O norueguês Øya Festival, que em agosto leva a Oslo Arctic Monkeys, Arcade Fire e Kendrick Lamar 
  • O francês We Love Green, que rola em junho em Paris e vem com Björk, Beck e o Jamie (The XX)
Glastonbury
O Glastonbury tirou um sabático em 2018, mas volta lindo, leve e verde em 2019 (Foto: Andrew Allcock/Glastonbury Festival)

Entre os Altamente Recomendados e Recomendados, vale esticar a canga nestes:

  • O dinamarquês Roskilde Festival, que terá Massive Attack, Nick Cave e Dua Lipa em Roskilde (30 minutos de Copenhague) em julho
  • O belga Paradise City, com Laurent Garnier, Joris Voorn e DJ Koze em Steenokkerzeel (meia hora de Bruxelas) no fim de junho. 
  • O festival holandês de arte e música eletrônica DGTL, que tem versão brasileira agora no início de maio em São Paulo, todo trabalhado em inovação e sustentabilidade
  • O tradicional britânico Glastonbury, que não vai rolar em 2018, mas volta em junho de 2019.
  • O espanhol Primavera Sound, que marca sempre um antes e depois em uma Barcelona já calorenta (maio/junho) – este ano com Black Lips e Animal Collective
  • O inglês Kew the Music (melhor nome ever), em Kew Gardens (meia horinha do centro de Londres), com Gipsy King, The Human League e Boyzone

Vale também dar uma conferida nos outros dois que levaram o selo de Excepcional: o natureba Wood Festival (maio) e o hedonista-só-que-não Green Gathering (agosto), ambos no Reino Unido.

Nick Cope
Nick Cope, conhecido como “encantador indie-surrealista de crianças”, é uma atração do family-friendly Wood Festival (Foto: Wood Festival)

Confira a lista completa de festivais condecorados em 2017 e de outros anos. 

Deu até um comichão, né?

Escala de sustainatripity: 8 – A existência do A Greener Festival faz com que uma das maiores indústrias do mundo (a do entretenimento) se preocupe com o rastro que deixa pelo caminho. Nestes tempos incertos, em que não sabemos o que vai perdurar, é quase certo afirmar que a música e a arte estarão sempre presentes. Por isso, é fundamental que esses grandes eventos tenham um impacto positivo.

Por que vale a pena? Porque é bacana não apenas para descobrir o que os festivais que você curte andam fazendo pelo planeta como também conhecer eventos menores e altamente comprometidos com o ambiental e social. 

Vai agradar a quem? Principalmente a organizadores que desejem criar eventos sustentáveis e responsáveis, sejam eles grandes shows ou humildes seminários. E não precisa desembolsar os 500 dólares da auditoria (a não ser que você queira o selo do AGF), já que o site disponibiliza muita informação para ajudar tanto quem quer realizar um encontro responsável quanto quem deseja participar de forma consciente de um evento.