O ponto é privilegiado: extremo noroeste da Jordânia, pertíssimo das Colinas de Golã (Síria), Palestina, Líbano e Mar da Galileia (Israel). A vista deslumbrante, a 378 metros do nível do mar, permite que o visitante tenha a sensação de estar em cinco países do Oriente Médio ao mesmo tempo. O entorno agrega ruínas greco-romanas que são Patrimônio Mundial da Unesco e locais que foram cenários de passagens bíblicas. Tudo isso a uma distância de apenas 110 quilômetros de Amã, capital da Jordânia.
Assim é Umm Qais, normalmente percorrida em day-trips a partir da capital jordaniana (o tour custa, em média, 80 dinars, ou 350 reais). Ofuscada pela fama de Gérasa (ou Jerash), que atrai a maioria dos turistas ao norte do país, Umm Qais ainda luta para se firmar nos roteiros mainstream – porém, com o cuidado de promover um turismo responsável.
Sua atração principal são as ruínas de Gadara (seu antigo nome), uma das cidades que formava a Decápole – grupo de dez urbes na fronteira oriental do Império Romano. Destacam-se, principalmente, seu preservado anfiteatro romano e seu cardo, rua ladeada por colunas. A vila também é conhecida por aparecer na Bíblia como um local onde Jesus teria exorcizado dois homens.
DE CIDADE COSMOPOLITA A VILA ABANDONADA
Historicamente, Umm Qais figurava em uma importante rota na região e, por volta do século II, foi habitada por uma alta sociedade intelectualizada. De solo fértil e abundantes chuvas, era destino de veraneio de antigos governantes romanos, que frequentavam seus teatros, banhos públicos e templos, gozando de sua atmosfera cosmopolita. Até que chegaram os cristãos e, depois, os muçulmanos.

Muitas construções foram feitas em basalto preto, algo não tão comum em edificações romanas. E, sem dúvida, vale conhecer o restaurante Umm Qais Resthouse, localizado em uma casa otomana, com vista para as Colinas de Golã, Líbano e o Mar da Galileia. Embora esteja cercada por países que vira e mexe aparecem no noticiário de guerra, pode jactar-se de viver em um ponto de paz, com montes acarpetados de grama, flores silvestres entre as ruínas e aromas cítricos de árvores que dão limões, laranjas e quincãs por suas ruas.
A localidade viu passar por seu território gregos, egípcios, romanos, bizantinos e otomanos. Sofreu um grande terremoto no ano 747 (que a deixou abandonada por muito tempo) e viveu guerras que a destruíram parcialmente. Com a queda do Império Otomano, seu número de habitantes foi diminuindo, até que, por volta dos anos 1990, voltou a despertar interesse. Hoje, conta com 7.000 habitantes.

NEGÓCIOS COMANDADOS POR LOCAIS
A consultoria especializada em turismo sustentável Baraka foi a responsável por criar um plano para desenvolver essa indústria na cidade de forma responsável. A ideia é empoderar a comunidade. “São os próprios locais que contam a história daqui. Isso é importante porque muitos lugares turísticos costumam ignorar os habitantes. No nosso modelo, eles lideram a experiência”, conta Muna Haddad, diretor da Baraka, nesta matéria do Washington Post.
O objetivo principal é incrementar a economia local e, por isso, grande parte dos empreendimentos turísticos pertence a habitantes da cidade. A capacitação dessas pessoas começou há três anos e estima-se que cerca de trinta famílias foram beneficiadas desde então.
O plano é que a cidade deixe de ser apenas uma day trip e que os visitantes pernoitem para aproveitar a culinária cada vez mais sofisticada (com direito a bons vinhos locais) e hospitalidade de lá. E que possam ir além das ruínasm aproveitando passeios pela Reserva Natural de Yarmouk, refrescante floresta cheia de carvalhos deste país considerado árido.
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Escala de sustainatripity: 8 – Em tempos de turismofobia, é muito bem-vindo criar um plano para desenvolver uma cidade por meio de turismo sustentável, focado no benefício da comunidade. Ponto para a economia e para a sociedade, dois dos pilares do triple bottom line.
Por que vale a pena? Porque é local privilegiadíssimo do ponto de vista geográfico, histórico e religioso, com o encontro de diferentes culturas dos países vizinhos.
Vai agradar a quem? Quem deseja viver uma experiência menos tumultuada que a das ruínas de Gérasa, quem busca destinos menos explorados, quem quer aproveitar a gastronomia local com mais tranquilidade e quem tem interesse por turismo religioso.