Não foi exatamente uma novidade no povoado de Kamikatsu, distrito de Tokushima, no sul do Japão. A pequena cidade, de pouco mais de 1.400 habitantes, já era um case no assunto lixo reciclável. Por lá, mais de 90% dos desperdícios são reciclados. E a ideia é ser “lixo zero” até 2020. Porém, Kamikatsu, que tem nada menos que 34 categorias de separação de resíduos, ficou famosa mesmo depois que ganhou um bar totalmente feito de “lixo”.
Foi em meios especializados em arquitetura que o buzz começou. A cervejaria Kamikatz Public House (também conhecida como Kamikatz Rise & Win Brewing Co.) levou a melhor no Wan Awards, em 2016, um dos principais reconhecimentos em arquitetura sustentável. O projeto, executado pela Hiroshi Hakamura & NAP, foi todo pensado sob o prisma do upcycling, que consiste em transformar um objeto em outro. Um exemplo: o lustre do pub é feito de garrafas coloridas.

Outros exemplos: papel de parede feito a partir de jornais antigos, pavimentos que viraram azulejos, janelas se transformaram em portas de armários e cadeiras de diferentes formatos fazem do lugar um ambiente descolado e divertido. Além de cerveja, o Kamikatz Public House também vende alimentos a granel (leve seu recepiente), como massas e frutos secos, e conta com um espaço externo convidativo no verão (vale dizer que uma das especialidades da casa é o churrasco).
MAS A GENTE VEIO PARA BEBER OU PARA ADMIRAR?
O bar certamente vai ajudar a movimentar a cidade que parece não ter muitas atrações (apenas cinco ocorrências no TripAdvisor). Mas… a cerveja é boa? Em blogs e sites, muito se fala da estrutura do bar e pouco sobre a que deveria ser sua principal atração. O Japão, acompanhando um movimento mundial, vem fazendo cerveja artesanal de qualidade, facilmente encontrável em Tóquio ou Kyoto. A do Kamikatz não parece fazer feio.

Embora não tenhamos ido a Kamikatsu quando estivemos no Japão, demos uma apurada sobre suas cervas. O diretor responsável pelo brewing foi importado de Nova York, Ryan Jones, que vem de uma família produtora de cerveja (seu avô já fazia isso).
No site da cervejaria é possível ver detalhes sobre os tipos servidos nas torneiras. O toque local fica pelo uso do yuko, limão japonês usado em uma das cervejas. Foi uma ideia que surgiu para reaproveitar as cascas dessa fruta usadas em sucos. Além disso, as sobras da fabricação da cerveja são usadas para produzir granolas e docinhos vendidos por lá. Tudo que é possível se reaproveita.
São quatro tipos de cerveja Kamikatz: IPA (com toques de coentro), Leuven White (a tal que leva yuko), Pale Ale (levemente picante e sugerida para harmonizar com costelas de porco) e Porter Stout (com toques de café e batata doce assada). Para tomar na hora (por 600 ienes ou cerca de 17,50 reais) ou levar em growler. Em breve, será lançada uma versão sem glúten. Aguardemos.
Puxa, vai pro Japão, mas não tem tempo de ir até Kamikatsu? Tudo bem. Eles têm uma filial em Tóquio, localizada entre o agitado e notívago bairro de Shibuya e uma das atrações da cidade, a Torre de Tóquio (que lembra uma Torre Eiffel). Espia aqui os detalhes e como chegar lá. A filial edokko (palavra para quem é natural da capital japonesa) também segue a decoração sustentável, com luminária de garrafas, piso de tijolos antigos e aventais dos garçons feitos de roupas usadas.
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Escala de sustainatripity: 8 – Mais focada no fator ambiental, a cervejaria implantou práticas como reciclagem, reaproveitamento e upcycling do ambiente até o DNA de seu produto final, a bebida.
Por que vale a pena? Porque são edifícios lindos (o de Kamikatsu mais), ambientes descolados, proposta honesta e preços razoáveis.
Vai agradar a quem? A cervejeiros que curtam provar as produções locais, a arquitetos e apaixonados por ambientes e, claro, a quem busca sustentabilidade.
*Fotos de divulgação