O ano de 2018 tem trazido excelentes avanços em relação a controle e diminuição do consumo de plástico. Esta semana, o Rio de Janeiro aprovou o projeto de lei que obriga bares e restaurantes a usar canudos de papel (aguardando apenas a sanção do prefeito), impulsionado em parte pela sociedade. A notícia deu uma super animada por aqui, já que pode ser o primeiro passo para acabar com esse desnecessário utensílio na cidade mais visitada do Brasil.
A preocupação com esses tubinhos sugadores existe em muitos lugares. Só nos Estados Unidos, onde as bebidas vêm com straw sem você nem pedir (principalmente para quem viaja com criança), são descartados 500 milhões de canudos por dia. Por ano, são usados 175 bilhões de canudos nesse país! Uma insanidade.
Papel, vidro e bambu são alguns materiais usados para substituir o plástico desse utensílio. É possível comprar seu próprio canudo durável e andar com ele por aí. Vale lembrar que 85% do lixo marinho são formados por plástico (oito milhões de toneladas por ano). Você já deve ter lido ou visto alguma matéria sobre como eles vão parar no estômago dos animais. Não viu, não?
Nós e a National Geographic sabemos que o mundo é extremamente dependente do plástico (vale assistir a este trecho do especial que o canal preparou sobre o tema). No entanto, recentemente, um vídeo de um mergulhador nadando em um mar de plástico em Manta Point, pertinho de Bali, viralizou e chocou o mundo. Ou seja, já está mais que na hora de tomar atitudes.
PROIBIDO USAR SACOLAS DE PLÁSTICO
Há quase uma década fui a Copenhague. A cidade me encantou por seu tamanho enxuto, seu metrô sem condutores, suas ruas limpíssimas, seu intenso tráfego de bicicletas (os carros têm altas tarifas justamente para inibir seu consumo) e por uma situação, até então, inusitada para mim.
Tenho o hábito de visitar supermercados em todos os destinos que visito. É o melhor lugar para garantir produtos locais a bons preços e resolver algumas lembrancinhas comestíveis. Na época, eu morava na Espanha e estava acostumada a pagar alguns centavos por sacolas de plástico, caso não levasse meu carrinho. Mas eu nunca tinha visto um mercado que, simplesmente, nem tivesse a opção de pagar por elas. Assim foi em Copenhague.
Desavisada, tive que colocar as compras na minha bolsa, que, por sorte, era grande. Ou teria que levar os produtos na mão até o hotel. Achei incrível. Eu ainda não sabia que a Dinamarca tinha sido o primeiro país do mundo, em 1993, a tomar medidas para reduzir os saquinhos.
DA AMÉRICA À ÁSIA
Hoje, enquanto no Brasil os mercados oferecem uma sacola dentro da outra (a desculpa é que não são muito resistentes), há muitos lugares que estão banindo ou restringindo severamente esses objetos. Nada menos que um trilhão deles são descartados por ano no mundo e a maioria acaba nos aterros sanitários ou oceanos.
O Chile foi o primeiro país das Américas a dar um passo nesse sentido. Em maio, anunciou um projeto de lei que dará um ano para os varejistas deixarem de dar sacolas aos clientes, incluindo as biodegradáveis. Outro destaque é Ruanda, país cada vez mais na moda entre os viajantes por suas práticas sustentáveis e que proibiu as sacolas em 2006. Uma das razões era para evitar a eliminação de poluentes tóxicos no ar, já que era costume queimá-las por lá.
Ainda na África, há outros exemplos notáveis. O mais famoso é o do Quênia, que, desde agosto de 2017, multa em inacreditáveis 38 mil dólares qualquer pessoa seja encontrada usando, produzindo ou vendendo uma sacola plástica. Pegando mais leve, as Ilhas Seychelles vêm, há dois anos fazendo a campanha Recuse o canudinho para conscientizar a população e os turistas.
Nova Délhi, capital da Índia, por sua vez, decidiu, também no ano passado, proibir totalmente os sacos descartáveis, pela mesma razão de Ruanda: melhorar a qualidade do ar. A Ásia tem ainda outro caso recente: em fevereiro de 2018, Taiwan anunciou uma completíssima proibição a plástico, restringindo o uso de sacolas descartáveis, canudos, utensílios e copos. A ideia é eliminar completamente o plástico descartável até 2030. Também há bons exemplos nas Filipinas, apesar do recente fechamento da turística Boracay devido ao lixo.
EUROPA LIDERA MEDIDAS
Pense numa meta audaciosa: reduzir, até 2019 (AKA ano que vem), 80% das sacolas plásticas. Isso é que a União Europeia pretende – e que vem movimentando seus países membros. A França já começou a se adaptar, proibindo sua utilização em alguns setores dos mercados, como na parte de hortifruti e carnes.
Além disso, o país mais visitado do mundo anunciou banimento total de copos e pratos de plásticos a partir de 2020. Vale lembrar que, na vizinha Inglaterra, a família real britânica resolveu dar o exemplo, vetando utensílios feitos de plástico no Palácio de Buckingham.
A Holanda proíbe, desde janeiro de 2016, sacos de plástico gratuitos. Em pouco mais de um ano, o uso de sacolas já tinha caído em 70%.
HOTÉIS, AGÊNCIAS E CRUZEIROS SEM PLÁSTICO
A Espanha, já citada acima, está cheia de ideias para substituir esse derivado do petróleo. Por exemplo, a rede de hotéis RIU, desde o início de junho, está oferecendo canudos que viram adubo, não só em seu país de origem, mas também em seus estabelecimentos em Portugal, Cabo Verde e Américas.
Outras empresas turísticas estão entrando na onda, principalmente no quesito single-use plastic, ou seja, aquele objeto de vida curtíssima, usado uma única vez. Veja alguns exemplosde iniciativas aqui.
Iberostar, Hilton e Marriott são algumas redes de hospedagem que já estão se preocupando com o tema. Sabe aquelas garrafinhas de shampoo, sabonete líquido e condicionador (as amenities)? Estão com os dias contados. A ideia é oferecer esse produtos a granel em repositórios fixos ou em embalagens de vidro, por exemplo. Alguns hotéis de Taipei, na já também citada Taiwan, oferecem até descontos para clientes que levem sua própria toiletry.
Além disso, os cruzeiros da Hurtigruten pretendem, até o início de julho, acabar com o plástico de uso único em seus navios. A Carnival Cruises também afirma que reduzirá bastante os canudos. E a aerolinha Alaska Airlines se propôs o mesmo desafio da Hurtigruten, também para julho. Até mesmo a campeã de reclamações United Airlines anunciou a reciclagem de plástico e outros materiais (eu desconfio, mas OK).
::UPDATE (Julho 2018) – Até mesmo as grandes cadeias Starbucks e McDonald’s vão abandonar os canudos de plástico.::
E vejam que legal: a agência Responsible Travel oferece roteiros de lugares e estabelecimentos plastic free, ou seja, sem objetos de plástico de uso único. Rotas por Itália, Croácia e Sri Lanka são algumas das sugestões. (DICA: esse link da RT acima é para guardar com carinho. Lá vai ele aqui de novo).
Se quiser saber mais sobre as campanhas contra o plástico, como a No Plastic Straws, vale uma lida neste super apanhado feito pelo El País (em português). Como o assunto aqui é viagem sustentável, recomendo muito seguir as dicas da Catherine Mack para férias sem plástico. Entre elas, levar talheres de aço para seus acampamentos e andar com garrafas duráveis, em vez de comprar as terríveis de plástico ao longo da trip.