Uma nação insular da Micronésia, de apenas 459 quilômetros quadrados e cerca de 20 mil habitantes, arrumou uma forma bem criativa de conscientizar os turistas que passarem por lá. Ao receber o visto ou carimbo de entrada, o visitante da República do Palau precisa assinar um texto, impresso em seu passaporte, comprometendo-se a respeitar as pessoas e o meio ambiente do local.
Localizada quase no centro de um imaginário triângulo cujos vértices estariam no Japão, Indonésia e Papua Nova Guiné, Palau é um paraíso de mar turquesa, areia fina branquíssima e florestas densas. Colonizada mais de 3000 anos atrás por povos oriundos do que hoje é a Indonésia, já esteve sob domínio de espanhóis, alemães, japoneses e americanos, resultando numa mescla cultural que se reflete na gastronomia, na arquitetura e nas línguas faladas por lá. Seus idiomas oficiais são o palauano ou palauense (uma língua malaio-polinésia) e o inglês, embora também seja comum encontrar idiomas regionais e também o japonês.
O arquipélago conta com oito ilhas principais e mais de 250 ilhotas. A mais populosa é Koror, onde vivem 2/3 da população. A capital, Ngerulmud, no entanto, fica em outra ilha: Babeldaob, a maior de todas.
TEXTO OFICIALIZA A PROMESSA
Com temperatura média de 27 graus e longe da rota dos tufões, Palau vem se firmando como destino turístico cada vez mais popular – daí a preocupação das autoridades com sua sustentabilidade. O turismo, a agricultura (em especial o cultivo de banana, coco, mandioca, batata doce) e a pesca são os principais motores da economia do país.
A nação recebe 160 mil visitantes por ano, ou seja, oito vezes o tamanho de sua população. Com a medida, que entrou em vigor no fim de 2017, tornou-se o primeiro país a mudar na legislação sua política de entrada para incorporar proteção a seu ambiente natural. O compromisso (chamado oficialmente de Palau Pledge) baseou-se na tradição local da BUL, espécie de moratória criada pelos líderes de Palau que impede o consumo excessivo ou a destruição de recursos naturais.
O texto que deve ser assinado, em tradução livre, diz:
“Filhos de Palau,
eu, como visitante, assumo o compromisso
de preservar e proteger sua bela e única ilha natal.
Eu prometo pisar levemente, agir gentilmente e explorar atentamente.
Eu não tomarei o que não me for dado.
Eu não prejudicarei o que não me prejudicar.
As únicas pegadas que deixarei são aquelas que possam ser lavadas.”
Em vídeo ainda fica mais bonito:
Na prática, os vistantes se comprometem a, por exemplo, não levar conchas como souvenires, não alimentar peixes e tubarões, não tocar os corais, não arrancar frutas ou flores de jardins e, claro, não sujar o ambiente, entre outras ações. Moradores também foram convidados a assinar o compromisso e até quem não tem planos de visitar o arquipélago tão cedo pode aumentar a corrente firmando a promessa online. Mais de 60 mil pessoas já participaram dessa forma.
ILHA HEDONISTA?
Uma informação curiosa: uma pesquisa da ONU de 2012 apontava que o país era o maior consumidor de maconha do mundo, com quase 25% dos habitantes usando a erva, e também o maior bebedor de cerveja, ultrapassando conhecidas nações apreciadoras desse produto, como República Tcheca e Irlanda. No entanto, os dados foram contestados, já que, por deter uma população tão pequena, não seriam confiáveis. No caso do uso da cannabis, por exemplo, os entrevistados foram estudantes de uma escola pública, o que representaria o comportamento de um grupo muito específico, conforme contesta a mesma matéria da BBC linkada acima.
Refletindo ou não a realidade, o fato é que Palau quer ser respeitada. E a campanha por turismo responsável e sustentável, criada pela agência australiana Host/Havas, não se limita ao texto do passaporte. As companhias aéreas que pousam no país exibem um curta de animação delicado e emocionante pouco antes da aterrissagem. Uma fofura:
A campanha levou oito prêmios da D&AD , a Global Association for Creative Advertising & Design, agora em abril.
UPDATE (JUNHO 2018) – Eles acabam de faturar Leões em Cannes com esta campanha, veja. Merecidíssmos.
Brasileiros não precisam de visto para visitar Palau, podendo ficar até 30 dias por lá. Se quiser ver imagens desse estonteante país, vale conferir o Insta do Palau Visitors, de onde tirei a imagem de abertura do post.
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Escala de sustainatripity: 10 – Eficiente e emocionante, a ideia não deixa ninguém indiferente. Sem contar que levar isso como lembrança no passaporte faz o viajante não só pensar em preservar Palau, como também destinos seguintes, quem sabe efetuando uma mudança no comportamento do visitante.
Por que vale a pena? Já clicou no Insta linkado acima? Caso claro de que imagens valem mais do que quaisquer palavras.
Vai agradar a quem? Principalmente aos moradores das ilhas, principais beneficiados da medida. Mas, não tem como não se mobilizar com uma iniciativa dessas. Ah, sim. Conta-se com a boa vontade e compreensão de todos, mas, caso o compromisso firmado não seja respeitado, o visitante poderá ser sancionado com multas, que podem chegar a exorbitantes um milhão de dólares. Pois é.