No fim de janeiro, a expectativa no Projeto Tamar era grande. Afinal, a qualquer momento, poderia (pode!) nascer a tartaruga número 35.000.000 sob a proteção de um dos mais bem sucedidos projetos ambientais brasileiros. A previsão é que o pequeno réptil rompa a casca do ovo ainda no verão de 2018. Mas, onde?
Em qualquer parte dos 1.100 quilômetros de praias onde o Tamar se faz presente. Uma história que começou 35 anos atrás, quando a mãe da tartaruga 35MM partiu da Bahia (estado onde o projeto começou) para o mundo e agora retorna a seu país para desovar. O nascimento é tão aguardado que ganhou um texto de Maviael Melo, emocionante e cheio de brasilidade, transformado em vídeo (veja abaixo).
GRANDES NÚMEROS
Criado em 1980, o Tamar protege uma extensa área do nosso litoral e de ilhas oceânicas do Nordeste ao Sul do Brasil. São locais de alimentação, desova, crescimento e descanso das tartarugas-marinhas no Ceará, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Sergipe, Bahia, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo e Santa Catarina.
Há 1800 funcionários do Tamar trabalhando na pesquisa, proteção e manejo das cinco espécies de tartarugas-marinhas que ocorrem no Brasil, todas ameaçadas de extinção: tartaruga-cabeçuda (Caretta caretta), tartaruga-de-pente (Eretmochelys imbricata), tartaruga-verde (Chelonia mydas), tartaruga-oliva (Lepidochelys olivacea) e tartaruga-de-couro (Dermochelys coriacea).
Sergipe, Bahia e Espírito Santo são os estados com maior número de iniciativas. Mais de quinze milhões de pessoas visitam seus museus todos os anos e, em recente viagem a Sergipe, fui ver de perto o de Aracaju, também conhecido como Oceanário de Aracaju.
PRIMEIRO OCEANÁRIO DO NORDESTE
O Tamar tem nove centros de visitação pelo País. O de Aracaju foi inaugurado em 2002 e recebe cerca de 160 mil visitantes por ano. Grande parte é composta por crianças, que ficam fascinadas já na entrada, com a reprodução em tamanho natural das cinco espécies protegidas pelo projeto.
Trata-se do primeiro oceanário do Nordeste e o quinto do Brasil. Instalado na badalada Orla do Atalaia, seu complexo de 1.700 metros quadrados foi construído em forma de tartaruga com cobertura de eucalipto e piaçava. Vale lembrar que faz bastante calor nas áreas sem ar-condicionado. Prepare-se e leve água.
É possível realizar visitas orientadas, assistir a palestras e curtir as exposições. O foco é no ecossistema do litoral sergipano, com 18 aquários (cinco de água doce e 13 de água salgada) nos quais é possível observar 70 espécies de tartarugas, moluscos, crustáceos e peixes locais.
TOCAR NO TUBARÃO E SOLTAR TARTARUGUINHAS
Bem organizado, o passeio começa em um jardim com informações sobre as espécies de tartarugas-marinhas brasileiras e dicas para a preservação das praias. Logo no início damos de cara com um tanque onde estão as estrelas do museu – que arrancam risos e gritinhos ao colocarem a cabeça para fora d’água, uma graça.
Outra atração é o tanque aberto dos tubarões-lixa. Eles são alimentados na frente do público diariamente às 16h30 e só costumam se movimentar mesmo nesse momento, quando é possível, inclusive, fazer um “carinho” neles. Confesso que me deu certo medo vê-los tão de perto e em um tanque tão facilmente acessível a crianças – eu não largava a mão da minha!
A experiência mais incrível é mesmo participar da soltura das tartaruguinhas no mar. No entanto, ocorre apenas uma vez por mês, junto com biólogos e com a participação da comunidade local. É preciso entrar em contato antes com o centro de visitação para saber o dia exato. Se não for possível estar lá na data, ao menos vale ver as pequeninas nadando no minitanque do lado de fora.
PARCERIA COM PRODUTORES LOCAIS
O Tamar não sobreviveria sem a participação da comunidade local em cada um dos seus centros. Uma das formas de criar essa interação foi com a confecção de produtos licenciados. O projeto capacita, profissionaliza e gera empregos nessas confecções, que produzem alguns dos souvenirs da loja do museu, tais como camisetas, bonés, jogos infantis educativos, ímãs de tecido, utensílios domésticos de artesanato e muitas outras lembrancinhas.
Mas o produto à venda que mais me chamou a atenção foi a cerveja tipo belgian blond ale em homenagem à tartaruga-de-pente. Fabricada pela Cia de Brassagem Brasil (que se inspira em espécies brasileiras para criar seus rótulos e colabora com a preservação desses animais), a bebida conta com notas de caramelo, é levemente cítrica e tem semente de coentro na receita. Ótimo e inusitado presentinho (fez sucesso na família cervejeira por aqui).
O Oceanário de Aracaju funciona de 9h a 21h diariamente e o ingresso custa 20 reais, com meia entrada para estudantes com carteira, crianças acima de um metro e idosos de mais de 60 anos. Portadores de necessidades especiais e crianças até um metro não pagam. Veja mais detalhes aqui.
—
Escala de sustainatripity: 10 – Por onde começar, né? Trata-se de um dos projetos mais sérios, respeitados e amados do Brasil. E fecha triple bottom line ao juntar motivação ecológica master, com participação social ativa e movimentação da economia local.
Por que vale a pena? Porque urge informar sobre a preservação das praias, cuja limpeza é fundamental não só para a sobrevivência desse réptil adorável, mas de todo um ecossistema. E porque as tartarugas são fofas, mesmo.
Vai agradar a quem? As crianças ficam loucas, loucas por lá. A cada nado da tartaruga, mexida do tubarão, painel interativo, vemos pequenos olhinhos brilharem de emoção. Pensando bem, não só pequenos olhinhos.